Título: Diálogos impossíveis
Autor: Luis Fernando Veríssimo
Editora: Objetiva
Classificação: 4/5
Sinopse:
Drácula e Batman discutem no asilo. Robespierre tenta subornar o carrasco. Goya e Picasso conversam sob o sol da Côte d’Azur. Juvenal planeja matar a mulher, Marinei, que o despreza. A recém-casada Heleninha pede conselhos ao urso de pelúcia. Qual um existencialista dotado de senso de humor, Verissimo persegue em suas crônicas o absurdo que marca a existência humana – salvo engano, a única que se preocupa com o seu propósito, o seu término e se alguém está falando demais na hora do pôquer. Em nenhum momento essa maldição se torna mais evidente do que na hora em que o homem abre a boca. Então, o que era para comunicar acaba é “estrumbicando”. Nas crônicas reunidas neste volume, Luis Fernando Veríssimo escreve sobre impossibilidade, incomunicabilidade e mal-entendidos. Escreve, enfim, sobre a vida.
Realizei a leitura em apenas um dia, os contos são bem divertidos e me peguei várias vezes rindo sozinha. Selecionei alguns preferidos e escolhi um para postar aqui:
O conselheiro
João riu muito quando a Heleninha contou que tinha um ursinho de estimação sem o qual não saberia viver e que ele se chamava Tedi.
- Vá se acostumando - disse a futura sogra ao João, dias antes do casamento, depois de a Heleninha revelar que levaria o Tedi na lua-de-mel.
- Ela não larga esse ursinho. Desde menininha.
E Heleninha levou o ursinho de estimação na lua-de-mel. E colocou o ursinho na cama do casal depois de voltarem da lua-de-mel e se instalarem no apartamento novo. E João não se cansava de olhar a nova mulher dormindo abraçada ao seu ursinho. Bonito, aquilo. Heleninha, no fundo, ainda era uma criança.
O ursinho era a segurança de Heleninha. Era o seu apego à infância e às suas doces ingenuidades. E o seu confidente. E o seu conselheiro.
- Ah, é? - sorriu João. - Você conta todos os seus segredos para o Tedi?
- Conto.
- E ele lhe dá conselhos?
- Dá.
- Um dia vou ter que ter uma conversa com esse ursinho...
- Ele não fala com qualquer um - disse Heleninha, séria.
João deu uma boa risada. Mas Heleninha continuou séria. Estava sentida. O marido estava fazendo pouco dela. Estava tratando-a como a uma criança. No dia seguinte, Heleninha pediu para João ir dormir na sala.
- Porquê?
- O Tedi acha que será melhor para o nosso casamento.
A sogra recomendou ao João que tivesse paciência. Na verdade, durante toda a infância e a adolescência de Heleninha, os conselhos que ela atribuía ao Tedi tinham se revelado muito sensatos. A própria escolha do João como marido fora do Tedi, segundo Heleninha. João entendia do mercado de capitais. Ficaria rico, comprando e vendendo na hora certa. Daria uma boa vida a Heleninha, na opinião do Tedi. Estava passando por dificuldades no momento, mas quem não estava no seu ramo? Era só recomeçar a fazer as escolhas certas e voltaria a ter sucesso no mercado de capitais. Segundo o Tedi.
João resistiu à conclusão de que toda a família era louca e decidiu que o jeito era conquistar a boa vontade do Tedi.
Mas como? Nem todo o amor que sentia por Heleninha o faria puxar conversa com um ursinho de estimação. Que, além de tudo, não falava com qualquer um. O que fazer? Resolveu pedir a Heleninha que lhe transmitisse as instruções do Tedi sobre quando e o que comprar e quando e o que vender. E, seguindo os conselhos do Tedi, João voltou a ganhar dinheiro.
João não comenta com ninguém do ramo o segredo do seu sucesso. Nem acredita que são os conselhos do Tedi os responsáveis pela sua recuperação. É tudo coincidência, claro. Mas o mercado está de um jeito, raciocina, que deve-se aceitar ajuda de onde vier.
E pelo menos o Tedi o deixou voltar para a cama da Heleninha.
Recomendo a leitura, esse livro serviu para mesclar um pouco das leituras atuais. Vale muito a pena.
Esse livro participa dos seguintes desafios:
Link do conto: http://expresso.sapo.pt/opiniao/opiniao_luis_fernado_verissimo/o-conselheiro=f528479
Beijinhos....
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